quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um ano de 2009 cheio de PAZ...


BARITONE

O Freunde, nicht diese Töne,
sondern lasst uns angenehmere
anstimmen, und freundenvollere.

AN DIE FREUDE - FREDERICH SCHILLER

BARITONE, QUARTETT UN KEHRREIM

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder,
was die Mode streng geteilt:
alle Menschen werden Brüder,
wo dein snafter Flügel weilt.

Wem der grosse Wurf gelungen,
eines Freundes Freund zu sein,
wer ein holdes Weib errungen,
mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
weinend sich aus diesem Bund!

Freude trinken alle Wesen
an den Brüsten der Natur,
alle Guten, alle Bösen
folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
und der Cherub steht vor Gott.

TENOR ALLEINFLUG UND KEHRREIM


Froh, wie seine Sonnen fliegen
durch des Himmels prächt'gen Plan,
laufet, Brüder, eure Bahn,
freudig, wie ein Held zum Siegen!

KEHRREIM


Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder,
was die Mode streng geteilt:
alle Menschen werden Brüder,
wo dein snafter Flügel weilt.

Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuss der ganzen Welt!
Brüder, überm Sternenzelt
muss ein lieber Vater wohnen.

Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such ihn überm Sternenzelt!
Über Sternen muss er wohnen.

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuss der ganzen Welt!
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such ihn überm Sternenzelt!
Brüder, überm Sternenzelt
muss ein lieber Vater wohnen!


Freude, Tochter aus Elysium,
deine Zauber binden wieder,
was die Mode streng geteilt!
Alle Menschen werden Brüder,
wo dein sanfter Flügel Weilt.

Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuss der ganzen Welt!
Brüder, überm Sternenzelt
muss ein lieber Vater wohnen.

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Freude, schöner Götterfunken!










BARITONE


Oh friends, not these tones!
Let us raise our voices in more
pleasing and more joyful sounds!

ODE TO JOY (Friedrich Schiller)

BARITONE, QUARTET, AND CHORUS

Joy, beautiful spark of the gods,
Daughter of Elysium,
We enter fire imbibed,
Heavenly, thy sanctuary.

Thy magic reunites those
Whom stern custom has parted;
All men will become brothers
Under thy gentle wing.

May he who has had the fortune
To gain a true friend
And he who has won a noble wife
Join in our jubilation!

Yes, even if he calls but one soul
His own in all the world.
But he who has failed in this
Must steal away alone and in tears.

All the world's creatures
Draw joy from nature's breast;
Both the good and the evil
Follow her rose-strewn path.

She gave us kisses and wine
And a friend loyal unto death;
She gave lust for life to the lowliest,
And the Cherub stands before God.

TENOR SOLO AND CHORUS

Joyously, as his suns speed
Through Heaven's glorious order,
Hasten, Brothers, on your way,
Exulting as a knight in victory.

CHORUS

Joy, beautiful spark of the gods,
Daughter of Elysium,
We enter fire imbibed,
Heavenly, thy sanctuary.

Be embraced, Millions!
This kiss for all the world!
Brothers!, above the starry canopy
A loving father must dwell.

Can you sense the Creator, world?
Seek him above the starry canopy.
Above the stars He must dwell.

Be embraced, Millions!
This kiss for all the world!
Brothers!, above the starry canopy
A loving father must dwell.

Can you sense the Creator, world?
Seek him above the starry canopy.
Above the stars He must dwell.

Joy, beautiful spark of the gods,
Daughter of Elysium,
We enter fire imbibed,
Heavenly, thy sanctuary.

Be embraced, Millions!
This kiss for all the world!
Brothers!, above the starry canopy
A loving father must dwell.

Can you sense the Creator, world?
Seek him above the starry canopy.
Above the stars He must dwell.

Be embraced, Millions!
This kiss for all the world!
Brothers!, above the starry canopy
A loving father must dwell.

Can you sense the Creator, world?
Seek him above the starry canopy.
Above the stars He must dwell.

Joy, daughter of Elysium
Thy magic reunites those
Whom stern custom has parted;
All men will become brothers
Under thy gentle wing.

Be embraced, Millions!
This kiss for all the world!
Brothers!, above the starry canopy
A loving father must dwell.

Joy, beautiful spark of Gods!,
Daughter of Elysium,
Joy, beatiful spark of Gods!.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Duas grandes Variações (I)

Dois grandes mestres abordam a forma "variação"...


... e nascem dois monumentos para a humanidade:


As Variações Golberg BWV 988 e as Variações Diabelli op. 120.


Duas obras-primas, separadas por cem anos que procuram responder a várias questões:


O que é o tema ? O que fazer com ele ? qual a relação das variações com o tema que as origina ? Qual a relação das variações entre si ? como se mantém a unidade da obra

Existe algo de filosófico em tudo isto, para além de todas as análises harmónicas e formais que se possam fazer.


Mas comecemos pelas questões formais...

Hoje refletiremos sobre as Variações Golberg BWV 988 de J.S. Bach


Bach, apaixonado por números agrupa as 30 variações em dez grupos de três. Cada "trindade" é composta por uma variação ao estilo livre, uma virtuosística e um stretto em canones que vão do uníssono ao intervalo de nona (com algumas excepções pelo meio). Mas o que mais impressiona o ouvinte não avisado é a aparente independência das variações em relação ao tema: a maravilhosa ária que inicia e finaliza o conjunto.

Vejamos o esquema geral da obra:


Ouçamos a lindíssima ária, aqui interpretada por Daniel Barenboim .






Como se instaura a unidade do conjunto ?

Esta unidade é real, sente-se durante a audição e é aparentemente inexplicável porque o tema parece não ter nada a ver com as variações. Senão ouçamos aqui a interpretação lendária de Gould da ária e das primeiras sete variações...







Não reconhecemos no desenho das variações fragmentos melódicos da ária porque este parentesco não é melódico mas sim harmónico... daí a sua imperceptibilidade, a pedir um ouvido mais "fino" e mais treinado. Em todas temos a mesma poderosa progressão harmónica que vai da tónica (sol) à dominante (ré) regressando novamente à tónica.

E tudo continua assim até à "variação" nº30. Quodlibet, derivada da canção popular Ich bin so lang nicht bey Dir gewest diferente de tudo o resto mas miraculosamente integrada no conjunto.

Variações 28 - 30 + ária a finalizar, por Pierre Hantai (aqui naquela rudeza sonora do cravo)



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Andante da "Sonata Fácil" de Mozart, segundo Mitsuko Uchida

Lembro-me de ter assistido a este concerto no canal Muzzik e de ter ficado pregado ao ecrã quando Mitsuko Uchida escolheu para o encore o segundo andamento da sonata em dó maior K. 545.
Estranha escolha !!, pensei... A sonata com o cognome de "sonata facile" para um momento em que o interprete espera a ser aclamado pelo seu virtuosismo. Escolher esta simples peça ?

Esta sonata para piano, com o cognome de "sonata fácil", na realidade nada tem de fácil, como podem constatar aqueles que como eu, tentam em vão martelar algumas teclas brancas e pretas do piano para tentar extrair algo que se assemelhe a uma obra de arte, tal como o divino Mozart a concebeu para o pianoforte.



Eu diria que, quando muito, esta seria a sonata menos difícil embora eu não esteja a em condições de garantir a veracidade desta afirmação uma vez que nem sequer tentei tocar as outras (imagino simplesmente !).

É certo que o piano foi durante o séc. XIX aquele instrumento democrático que todos poderiam tocar. Vá lá... algumas peças criadas especificamente para amadores. E poucos poderiam aventurar-se nas peças reconhecidamente para virtuoses.

Actualmente, movidos por aquela febre bem intencionada de superação individual, muitos se lançam em aventuras, talvez encorajados por alguns cognomes mais ou menos enganadores... como o desta sonata.

O resultado é um verdadeiro suplício de audição para os navegadores do YOUTUBE que encontram na mesma página interpretações sublimes ao lado de implacáveis golpes de martelo nestas esculturas de cristal sonoro.

Embora eu continue a tentar tocar estas peças na intimidade da minha sala de estar, espero ter a lucidez suficiente para me manter no papel do curioso maravilhado com a beleza melódica dos seus temas e reservar a sua materialização sonora para os virtuoses que conseguem encontrar o equilíbrio perfeito dos pianos e pianíssimos, legattos e stacattos entre outros recursos expressivos que são a alma destas obras delicadíssimas.






Ainda bem que reencontrei esta gravação para poder partilhar convosco.
Para mim continua a ser a referência deste andamento (ao lado de Alfred Braendel - na minha opinião o maior interprete vivo de Mozart).
Faltam-me, no entanto, adjectivos para qualificar esta, de tão simples que soa e tão mágica... ouvi uma vez e nunca mais a esqueci....

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Concerto para quatro cravos BWV 1065

Como deve ter reparado, caro leitor, tem sido difícil manter uma certa assiduidade no Organum.
Quando o trabalho aperta apenas tenho tempo para postar umas "curtas literaturas" no Portalivros.
Não é fast-food, apenas altíssima qualidade condensada em poucas linhas (modéstia a parte... embora os poemas não sejam meus). E acho que já fiz publicidade suficiente...
Quanto ao post de hoje, apeteceu-me dar um salto de alguns séculos para regressar ao barroco. E isto a propósito de um concerto que tenho estado a ouvir nos últimos dias... uma das famosas obras de Bach: O concerto para quatro cravos, o BWV 1065.
Estranho ! Quatro cravos, quatro solistas ? Comovente, inocente e belo, incrivelmente belo… E a sua ligação ao padre ruivo: Vivaldi !

Por volta de 1730, Bach tinha transcrito uma série de desassete concertos para tecla com um objectivo puramente pedagógico. Com a sua honestidade, anotava a origem da versão
No caso deste concerto, Bach anotou o subtítulo "segundo Vivaldi"


"Pelo menos no andamento lento, a obra é assombrosa, divagando, sem tema, num nevoeiro sonoro sem equivalente. Bach, sempre atento a audácias profícuas, não se tinha enganado e parece surpreendente que nenhum comentador tenha tido a ideia de determinar aquilo que, num objecto sonoro tão estranho, provém deste "Vivaldi" desconhecido e aquilo que pertencerá ao próprio Bach. Até final do séc XVIII, (...) dicionários eminentes, eruditas histórias da música (Gerber, Orloff) limitaram-se a repetir as mesmas historietas, reduzindo a memória de Vivaldi à de um grande virtuoso um pouco excessivo. Nada melhor para precipitar o esquecimento da sua música. Dar-se-iam conta de que nada na época, nem em Bach (cujo temperamento conduzia em direcção a uma música inteiramente diferente!) nem em nenhum outro compositor, tinha qualquer semelhança com esse andamento espectral do Concerto para quatro cravos? Não, limitaram-se a concluir que partindo dum esboço insignificante, se estava perante uma experiência bizarra dum Kantor fatigado (…) Mas ninguém parece ter-se preocupado muito, talvez porque à semelhança dos Contos de Grimm ou da catedral de Colónia, Bach não podia ser senão inteiramente germânico: não tinha ele composto, quase simultaneamente, a não menos visionária Fantasia cromática ? Pelo menos aí, aqueles que iriam preparar a chegada de Wagner podiam reconhecer-se !" - Marcel Marnat

Sobre este belíssimo texto apetece-me acrescentar que muita da história da música ocidental dos periodos Barroco e Clássico (pelo menos !!!) viveu dessa tensão entre a música italiana e a germânica. Bach soube conciliar estes dois "mundos" de forma admirável.

Voltando ao concerto, é em 1850 que um musicólogo alemão descobre que o concerto para quatro cravos é uma transcrição do concerto nº10 do opus III de Vivaldi.



Nessa época o compositor veneziano era pouco conhecido e respeitado e por isso a descoberta foi desvalorizada e até esquecida. Havendo até quem procurasse inverter a verdade dos factos ao afirmar que teria sido o Padre Ruivo a transcrever a obra do Mestre !!! O que Bach diria se fosse vivo…
E a música de Vivaldi permaneceu esquecida sob a poeira dos arquivos…

Em 1905 ! Arnold Schering descobriu e estudou na Biblioteca do estado de Saxe vários manuscritos de Vivaldi e irá restituir ao veneziano, na sua "História Fundamental do Concerto" (Geschichte des Instrumentalkonzerts), o estatuto que lhe pertence, tanto no plano formal como no da invenção instrumental.

Apraz-me dizer que a maior injustiça que se pode fazer a Vivaldi é não ouvir a sua música (ainda hoje, muito da sua obra está ainda por gravar!). Nesse aspecto nada como a união de dois génios para comemorar a verdadeira grande música...

Comecemos então pela transcrição de Bach, aqui com um conjunto de interpretes de luxo: Argerich, Kissin, Levine e Pletnev.




Continuamos depois com a versão original de Vivaldi:

O concerto para quatro violinos nº 10 op. III

Nesta interpretação intervêm Pinchas Zucherman, Ivry Gitlis, Isaac Stern, Ide Haendel, Shlomo Mintz, Daniel Benyanini e a Israel Philharmonic Orchestra dirigida por Zubin Metha.

Tantos !!! Que tal tentar identificá-los ?

1º Andamento



2º Andamento (o tal "andamento espectral")






3º Andamento




Á tua memória:

Kitty (1993-2008)

domingo, 27 de janeiro de 2008

A Morte e a Donzela

Ainda outro exemplo da tonalidade de ré menor.
Podemos descer ainda mais fundo no desespero humano até ao conformismo...


Edvard Munch (1863-1944)


Der Tod und das Madchen (A morte e a donzela) o lied (canção) de Schubert deu o nome a um célebre e belíssimo quarteto de cordas, o número 14 op. posth D.810. O tema desta canção é retomado no segundo andamento (Andante) do quarteto, daí o seu nome.

Apresento também aqui o primeiro andamento, pela sua beleza...


1ºAndamento





(Alban Berg Quartet)
2º Andamento





(Alban Berg Quartet)
O lied:





(Regine Crepin 1927-2007)

Das Mädchen (A donzela):


Vorüber! Ach, vorüber! (Vai-te embora ! Oh Vai-te embora ! )
Geh, wilder Knochenmann! (Vai-te, cruel esqueleto ! )
Ich bin noch jung, geh Lieber! (Ainda sou nova, vai !)
Und rühre mich nicht an. (E não me toques.)


Der Tod (A Morte):


Gib deine Hand, du schön und zart Gebild! (Dá-me a tua mão, bela e delicada forma!)
Bin Freund, und komme nicht, zu strafen. (Sou uma amiga, e não vim para te castigar. )
Sei gutes Muts! ich bin nicht wild, (Alegra-te! Eu não sou cruel, )
Sollst sanft in meinen Armen schlafen! (Dormirás docemente nos meus braços! )

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen


Peço desculpa pela repetição da ária do post anterior, mas não consegui resistir em colocar aqui o texto para que pudessemos apreciar melhor o "casamento" perfeito entre música e palavra.
Ao mesmo tempo que vamos fixando a tonalidade sombria de ré menor os nossos ouvidos...


A Rainha da noite investe furiosa por Tamino se ter consagrado ao lado inimigo dos iniciados e louca de raiva entrega a sua filha Pamina um punhal ordenando-lhe que mate Sarastro, para que se cumpra a vingança infernal a que aspira... (II acto da Flauta Mágica de Mozart)





(Diana Damrau como Rainha da Noite, O traje é maravilhoso !!!)

Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen, (A vingança do inferno ferve em meu coração)
Tod und Verzweiflung (Morte e desespero)
flammet um mich her! (ardem em mim!)
Fühlt nicht durch dich (Se através de ti)
Sarastro Todesschmerzen (Sarastro não sentir a dor da morte)

So bist du meine Tochter nimmermehr. (Então não mais serás minha filha.)

Verstossen sei auf ewig, (Para sempre serás por mim repudiada)
Verlassen sei auf ewig, (Para sempre serás por mim abandonada)
Zertrümmert sei'n auf ewig (Para sempre serão destruidos)
Alle Bande der Natur (Todos os laços da Natureza)

Wenn nicht durch dich! (Se através de ti !)
Sarastro wird erblassen! (Sarastro não empalidecer!)
Hört, Rachegötter, (Ouçam Deuses da vingança)
Hört der Mutter Schwur! (Ouçam o juramento de uma mãe)

Site oficial de Diana Damrau (vale a pena ver...): http://www.diana-damrau.com/2007/en/vita.html

sábado, 19 de janeiro de 2008

Mozart e a tonalidade de ré menor

Embora seja redutor considerar a harmonia o único veículo de atribuição do carácter de uma peça musical, este tipo de associações parece, no entanto estar bem documentada.

Para alguns compositores, certas tonalidades assumiam um carácter tão marcado que apareciam associados a obras musicais de espírito semelhante.

No caso de Mozart, é famoso o caracter trágico associado à tonalidade de ré menor...

Apresentam-se em seguida alguns dos exemplos mais famosos:

Concerto para piano No. 20 em ré minor, K.466, aqui na interpretação de Friedrich Gulda (1930-2000) e a Filarmónica de Munique.








Fantasia em ré menor K397 também na interpretação pouco convencional de Friedrich Gulda.









A famosa ária da Rainha da noite no segundo acto de A Flauta Mágica, "Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen" (A vingança do inferno ferve no meu coração) pela soprano Luciana Serra.







O início da abertura da Ópera Don Giovanni conduzida pelo maestro James Levine à frente da Metropolitan Opera orchestra.







...e na cena final, em que o espírito do comendador aparece para arrastar a alma de Don Giovanni para o inferno. Da mesma gravação do exemplo anterior com Bryn Terfel como Don Giovanni.







Ré menor é a tonalidade da última obra de Mozart, a Missa de Requiem.

(Georg Solti e a Filarmónica de Viena).






quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tonalidade e Carácter

Wassily Kandinsky, Composição VII, 1923


"Muitos musicólogos têm atribuido a cada uma das tonalidades um caráter, expressão ou colorido especial. Não se pode determinar de um modo absoluto o caráter de cada tom, pois isso depende de reações subjetivas de cada indivíduo. Contudo, alguns musicólogos, como Gevaert e Lavignac, caracterizam os tons de acordo com a tabela que apresentamos a seguir.


Tons maiores

fá sustenido maior - rude
si maior - enérgico
mi maior - brilhante
lá maior - sonoro
ré maior - alegre, vivo
sol maior - campestre
dó maior - simples, natural
fá maior - rústico
si bemol maior - nobre, elegante
mi bemol maior - enérgico, sonoro
lá bemol maior - suave, meigo
ré bemol maior - cheio de encanto, suave
sol bemol maior - doce e calmo

Tons menores

sol sustenido menor - muito sombrio
dó sustenido menor - brutal, sinistro
fá sustenido menor - rude, aéreo
si menor - selvagem ou sombrio, mas enérgico
mi menor - triste, agitado
lá menor - simples, triste
ré menor - sério, concentrado
sol menor - melancólico
dó menor - dramático, violento
fá menor - triste, melancólico
si bemol menor - fúnebre ou misterioso
mi bemol menor - profundamente triste
lá bemol menor - lúgubre, aflito "


Este era mais um jogo musical que costumava jogar.
Escolhia aleatoriamente uma peça musical e procurava verificar a veracidade destas tabelas.
Que tal experimentar ?


L.W. Beethoven, primeiro andamento da Sonata para piano em dó menor op. 111
Claudio Arrau
"dramático e violento"







F. Chopin, Nocturno no. 8 op. 27 no. 2 em ré bemol maior
Maurizio Pollini
"cheio de encanto e suave"



quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Waltz for Debby



Há noites assim, só me apetece estar deitado a ouvir.
E talvez eu hoje esteja um pouco nostálgico sem vontade para grandes teorias ou jogos musicais...

Bill Evans (1929-1980)



domingo, 13 de janeiro de 2008

As sinfonias de Robert Schumann (1810-1856)

Como apreciador do género sinfónico, deparei-me a certa altura com o universo de Schumann sem conhecer devidamente a dimensão da sua obra pianística que é considerada bem mais importante que a sua obra sinfónica.
Como ouvinte avisado e, talvez demasiado racional, fui procurar informação escrita sobre as suas quatro sinfonias (parte principal, mas não única do seu corpus sinfónico).


Transcrevo de seguida alguma informação recolhida:
"Em contrapartida, a sua música sinfónica e concertante sofreu muito com os julgamentos depreciativos em relação aos seus procedimentos de orquestração. De facto, nota-se facilmente que a instrumentação de Schumann não parece, como no piano, uma necessidade de acto criativo - com as suas harmonias sem clareza, as suas sonoridades maciças, por vezes opacas. E é um facto que a invenção musical se encontra aí menos constantemente sustentada." (Tranchefort, Guia da Música Sinfónica, Gradiva)

São, portanto quatro as sinfonias de Robert Schumann, a saber:

Sinfonia nº1, em si bemol, "da Primavera" (op. 38); composta em 1841. Diz-se que foi esboçada em quatro dias !!! e é a expressão da felicidade do compositor que acabara de casar com a sua amada Clara.

Sinfonia nº2, em dó maior (op. 61); Cronologicamente é a terceira sinfonia tendo sido iniciada em Dezembro de 1845 e terminada no ano seguinte. Na altura em que se manifestaram os primeiros sintomas da doença que seria fatal para o compositor. Nas palavras do próprio - "posso bem dizer que é a resistência do espírito que é aqui manifestada e que procurei lutar contra o meu estado..."

Sinfonia nº3, em mi bemol maior "Renana" (op. 97); Foi escrita em Dezembro de 1850 e estreada no ano seguinte. Apesar do seu número é, cronologicamente a segunda. O seu apelido "Renana" provém do subtítulo inicialmente previsto pelo músico - "Episódio de uma vida nas margens do Reno". O primeiro e o penúltimo andamentos são tão extraordinários que merecem um post próprio...

Sinfonia nº4, em ré menor (op. 120); Cronologicamente, esta é a segunda (confusos ?). Tal como a primeira sinfonia foi composta em 1841, mas a sua instrumentação foi revista em 1851 (quando já tinham sido estreadas a segunda e a terceira). O seu título original diz tudo "Fantasia Sinfónica". É a mais original das sinfonias de Schumann uma vez que os quatro andamentos se encadeiam sem interrupção (indicação expressa pelo compositor) e põe em prática um procedimento que viria a ser utilizado mais tarde por outros compositores: o princípio cíclico em que os temas principais reaparecem ao longo dos vários andamentos.

Pode dizer-se que o pobre Schumann foi vítima, à partida, de alguma avaliação precipitada da minha parte, uma vez que as duas gravações de que dispunha não me entusiasmaram por aí além, salvo talvez, numa delas o majestoso primeiro andamento da sua "Renana".

Mas por vezes uma determinada versão gravada pode mudar completamente a nossa perspectiva de uma determinada obra musical.

Este é precisamente o caso da versão de Gardiner e a Orchestre Revolutionnaire et Romantique que mudou completamente a minha opinião sobre a tão criticada orquestração de Schumann.
Nesta gravação, as sinfonias de Schumann aparecem sob uma luz completamente nova permitindo apreciar muitas das descobertas tímbricas e o arrojo formal do compositor que brilha com a luz própria dos génios.

É certo que se nota aqui e ali a ausência de subtileza que abunda em Beethoven e Haydn, por exemplo e que o substrato melódico tende a subjugar a orquestração ao ponto de se notar demasiado a intenção da escrita. Em certas gravações a fusão excessiva dos vários intrumentos resulta nas citadas "harmonias sem clareza" e nas "sonoridades maciças, por vezes opacas".

Em minha opinião, o segredo desta versão está na clareza com que é possível ouvir todos os naipes orquestrais. Por exemplo, uma certa rudeza nos timbales e nos metais ajuda a distingui-los melhor das cordas graves ao contrário do que acontece normalmente com a maior parte das gravações em que o som demasiado "redondo" desses dois naipes se funde com o resto da orquestra resultando na tal opacidade já referida. A orquestra cria assim um som menos maciço mas mais intimista aproximando-se mais das formações de câmara.
Um procedimento semelhante, embora com algumas nuances também foi usado numa das minhas versões preferidas das sinfonias de Beethoven de que falarei brevemente.

Esta é, de facto, imperdível ...

Composer: Robert Schumann
Conductor:
John Eliot Gardiner
Performer:
Susan Dent, Gavin Edwards, Robert Maskell, Roger Montgomery
Orchestra:
Orchestre Revolutionnaire et Romantique
Audio CD (April 28 1998)
SPARS Code: DDD
Number of Discs: 3
Label: Universal Music Group
Run Time: 204 minutes
ASIN: B000006PKI

(fonte Amazon.com)

E para que o post não fique sem música andei à procura no Youtube e não encontrei a versão de Gardiner mas uma gravação histórica com o maestro Carl Schuricht (1880-1967) considerado um especialista no reportório germânico desde Schubert a Mahler".

Admirado por Celibidache, é também conhecido pela interpretação apaixonada das sinfonias de Bruckner, sobretudo da sua gravação da sinfonia nº5 realizada em Viena em 1963 e considerada por muitos a melhor versão da obra. (fonte Wikipedia)

Schuricht dirige aqui o primeiro andamento da sinfonia nº3 "Renana" (op.97)




terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Números e Música

www.kazuya-akimoto.com/blog1/2006/12/

Quando voltei a ouvir a oratória "A Criação" reparei, pela primeira vez na omnipresença de um determinado número na obra. Subitamente lembrei-me de vários compositores que organizaram as suas obras em torno de certos números e símbolos.

Para além de Bach de que falarei, certamente no futuro. Há o caso paradigmático de Mozart e a sua famosa ópera "A Flauta Mágica".




Voltei a consultar alguns livros e, lá estava a referência:

"A simbologia maçónica está presente em todo o enredo desenvolvido por Schikneder e por Mozart. (...) O número três é uma constante em toda a obra. três génios da floresta, três aias da rainha, três sacerdotes, três altares, três escravos (...)" E prossegue com exemplos atrás de exemplos...

Voltando à "Criação" fixei as seguintes:


- As três partes do oratório (ao contrário das habituais duas),


- Os três anjos Gabriel, Uriel e Rafael,


- A estrutura tripartida: Recitativo-Aria-Coro que descreve cada um dos dias da criação.


- Os grandes trios e coros com trio constituem sem dúvida pontos fulcrais no oratório: "Die Himmel erzählen die Ehre Gottes" (Os céus proclamam a glória de Deus); " Der Herr ist groß in seiner Macht" (O Senhor é grande em seu poder); "Vollendet ist das große Werk" (concluída está a gloriosa obra); só para citar alguns exemplos.


Esta obsessão pelo número três estará provavelmente também relacionada com a filiação maçónica de Haydn.

Convido os leitores a encontrarem outras "coincidências" nesta partitura naquilo que não deixa de ser mais um "jogo musical"...

Para ilustrar ficaremos precisamente com um desses famosos coros em que intervêm também os três arcanjos: "Die Himmel erzählen die Ehre Gottes" (Os céus proclamam a glória de Deus) e que encerra a primeira das três partes da oratória.

Que maravilhosa glorificação do número 3 !!!




CORO

Die Himmel erzählen die Ehre Gottes, (Os céus proclamam a glória de Deus,)
Und seiner Hände Werk (a obra de suas mãos.)
Zeigt na das Firmament. (é testemunhada pelo firmamento)

GABRIEL, URIEL, RAFAEL


Dem Kommenden Tage sagt es der Tag. (O dia que finda diz ao dia vindouro,)
Die Nacht, die verschwand der folgenden Nacht: (a noite desaparecida à noite seguinte:)


CORO


Die Himmel erzählen die Ehre Gottes, (Os céus proclamam a glória de Deus,)
Und seiner Hände Werk (a obra de suas mãos.)

Zeigt an das Firmament. (é testemunhada pelo firmamento)


GABRIEL, URIEL, RAFAEL


In alle Welt ergeht das Wort, (A todo o mundo chega a palavra,)
Jedem Ohre Klingend, (e soa em cada ouvido,)
Keiner Zunge fremd; (e não a estranha nenhuma língua:)

CORO


Die Himmel erzählen die Ehre Gottes, (Os céus proclamam a glória de Deus,)
Und seiner Hände Werk (a obra de suas mãos)
Zeigt an das Firmament. (é testemunhada pelo firmamento)


sábado, 5 de janeiro de 2008

Nos rigores do inverno...

home.earthlink.net/~steveells/pancoast_more.html

Pois é… tenho passado ao lado do Organum. Apenas tive um tempinho para deixar um post no Portalivros (o primeiro de 2008). Mas espero agora poder voltar ao ritmo habitual de publicações.
E como estes dias têm sido tipicamente de Inverno, apetece-me ouvir e falar de Brahms. É precisamente nestes dias cinzentos, húmidos e frios que a sua música se insinua na minha mente e sou tentado a ouvi-la, sentado no sofá a olhar lá para fora.
Brahms, o compositor que rejeita a música programática. Toda a sua música é pura, dizem… abstracta, formal. As emoções não transbordam, transfiguram-se em ideias musicais que são fortemente disciplinadas sendo truncadas nas formas “perfeitas do Classicismo”. Um metal fundido vertido num molde que fixa a sua forma.
O curioso é que eu acho que nada disso define a sua música. Mas quem sou eu para contrariar os especialistas?!!
Para mim a música de Brahms respira a grandiosidade da natureza. Aquela natureza brutal e rude dos dias de Inverno. Vejo chuva, vejo neve… E quando tudo parece precipitar-se sobre nós com aquelas instrumentações densas e pesadas, eis que subitamente se desprende uma melodia tão terna, tão romântica como pode ser o calor de uma lareira, o aconchego de um cobertor... para depois regressar ao espírito inicial, mais severa do que nunca.
Para lá de todas as análises harmónicas ou formais. Há qualquer coisa em Brahms que me escapa nestes raciocínios secos.
Numa palavra: Adoro!!





J. Brams: Excerto do primeiro andamento da Sinfonia nº1 em Do menor, op. 68