... e nascem dois monumentos para a humanidade:
As Variações Golberg BWV 988 e as Variações Diabelli op. 120.
Duas obras-primas, separadas por cem anos que procuram responder a várias questões:
O que é o tema ? O que fazer com ele ? qual a relação das variações com o tema que as origina ? Qual a relação das variações entre si ? como se mantém a unidade da obra
Existe algo de filosófico em tudo isto, para além de todas as análises harmónicas e formais que se possam fazer.
Mas comecemos pelas questões formais...
Hoje refletiremos sobre as Variações Golberg BWV 988 de J.S. Bach
Bach, apaixonado por números agrupa as 30 variações em dez grupos de três. Cada "trindade" é composta por uma variação ao estilo livre, uma virtuosística e um stretto em canones que vão do uníssono ao intervalo de nona (com algumas excepções pelo meio). Mas o que mais impressiona o ouvinte não avisado é a aparente independência das variações em relação ao tema: a maravilhosa ária que inicia e finaliza o conjunto.
Vejamos o esquema geral da obra:
Ouçamos a lindíssima ária, aqui interpretada por Daniel Barenboim .
Como se instaura a unidade do conjunto ?
Esta unidade é real, sente-se durante a audição e é aparentemente inexplicável porque o tema parece não ter nada a ver com as variações. Senão ouçamos aqui a interpretação lendária de Gould da ária e das primeiras sete variações...
Não reconhecemos no desenho das variações fragmentos melódicos da ária porque este parentesco não é melódico mas sim harmónico... daí a sua imperceptibilidade, a pedir um ouvido mais "fino" e mais treinado. Em todas temos a mesma poderosa progressão harmónica que vai da tónica (sol) à dominante (ré) regressando novamente à tónica.
E tudo continua assim até à "variação" nº30. Quodlibet, derivada da canção popular Ich bin so lang nicht bey Dir gewest diferente de tudo o resto mas miraculosamente integrada no conjunto.
Variações 28 - 30 + ária a finalizar, por Pierre Hantai (aqui naquela rudeza sonora do cravo)
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