domingo, 13 de janeiro de 2008

As sinfonias de Robert Schumann (1810-1856)

Como apreciador do género sinfónico, deparei-me a certa altura com o universo de Schumann sem conhecer devidamente a dimensão da sua obra pianística que é considerada bem mais importante que a sua obra sinfónica.
Como ouvinte avisado e, talvez demasiado racional, fui procurar informação escrita sobre as suas quatro sinfonias (parte principal, mas não única do seu corpus sinfónico).


Transcrevo de seguida alguma informação recolhida:
"Em contrapartida, a sua música sinfónica e concertante sofreu muito com os julgamentos depreciativos em relação aos seus procedimentos de orquestração. De facto, nota-se facilmente que a instrumentação de Schumann não parece, como no piano, uma necessidade de acto criativo - com as suas harmonias sem clareza, as suas sonoridades maciças, por vezes opacas. E é um facto que a invenção musical se encontra aí menos constantemente sustentada." (Tranchefort, Guia da Música Sinfónica, Gradiva)

São, portanto quatro as sinfonias de Robert Schumann, a saber:

Sinfonia nº1, em si bemol, "da Primavera" (op. 38); composta em 1841. Diz-se que foi esboçada em quatro dias !!! e é a expressão da felicidade do compositor que acabara de casar com a sua amada Clara.

Sinfonia nº2, em dó maior (op. 61); Cronologicamente é a terceira sinfonia tendo sido iniciada em Dezembro de 1845 e terminada no ano seguinte. Na altura em que se manifestaram os primeiros sintomas da doença que seria fatal para o compositor. Nas palavras do próprio - "posso bem dizer que é a resistência do espírito que é aqui manifestada e que procurei lutar contra o meu estado..."

Sinfonia nº3, em mi bemol maior "Renana" (op. 97); Foi escrita em Dezembro de 1850 e estreada no ano seguinte. Apesar do seu número é, cronologicamente a segunda. O seu apelido "Renana" provém do subtítulo inicialmente previsto pelo músico - "Episódio de uma vida nas margens do Reno". O primeiro e o penúltimo andamentos são tão extraordinários que merecem um post próprio...

Sinfonia nº4, em ré menor (op. 120); Cronologicamente, esta é a segunda (confusos ?). Tal como a primeira sinfonia foi composta em 1841, mas a sua instrumentação foi revista em 1851 (quando já tinham sido estreadas a segunda e a terceira). O seu título original diz tudo "Fantasia Sinfónica". É a mais original das sinfonias de Schumann uma vez que os quatro andamentos se encadeiam sem interrupção (indicação expressa pelo compositor) e põe em prática um procedimento que viria a ser utilizado mais tarde por outros compositores: o princípio cíclico em que os temas principais reaparecem ao longo dos vários andamentos.

Pode dizer-se que o pobre Schumann foi vítima, à partida, de alguma avaliação precipitada da minha parte, uma vez que as duas gravações de que dispunha não me entusiasmaram por aí além, salvo talvez, numa delas o majestoso primeiro andamento da sua "Renana".

Mas por vezes uma determinada versão gravada pode mudar completamente a nossa perspectiva de uma determinada obra musical.

Este é precisamente o caso da versão de Gardiner e a Orchestre Revolutionnaire et Romantique que mudou completamente a minha opinião sobre a tão criticada orquestração de Schumann.
Nesta gravação, as sinfonias de Schumann aparecem sob uma luz completamente nova permitindo apreciar muitas das descobertas tímbricas e o arrojo formal do compositor que brilha com a luz própria dos génios.

É certo que se nota aqui e ali a ausência de subtileza que abunda em Beethoven e Haydn, por exemplo e que o substrato melódico tende a subjugar a orquestração ao ponto de se notar demasiado a intenção da escrita. Em certas gravações a fusão excessiva dos vários intrumentos resulta nas citadas "harmonias sem clareza" e nas "sonoridades maciças, por vezes opacas".

Em minha opinião, o segredo desta versão está na clareza com que é possível ouvir todos os naipes orquestrais. Por exemplo, uma certa rudeza nos timbales e nos metais ajuda a distingui-los melhor das cordas graves ao contrário do que acontece normalmente com a maior parte das gravações em que o som demasiado "redondo" desses dois naipes se funde com o resto da orquestra resultando na tal opacidade já referida. A orquestra cria assim um som menos maciço mas mais intimista aproximando-se mais das formações de câmara.
Um procedimento semelhante, embora com algumas nuances também foi usado numa das minhas versões preferidas das sinfonias de Beethoven de que falarei brevemente.

Esta é, de facto, imperdível ...

Composer: Robert Schumann
Conductor:
John Eliot Gardiner
Performer:
Susan Dent, Gavin Edwards, Robert Maskell, Roger Montgomery
Orchestra:
Orchestre Revolutionnaire et Romantique
Audio CD (April 28 1998)
SPARS Code: DDD
Number of Discs: 3
Label: Universal Music Group
Run Time: 204 minutes
ASIN: B000006PKI

(fonte Amazon.com)

E para que o post não fique sem música andei à procura no Youtube e não encontrei a versão de Gardiner mas uma gravação histórica com o maestro Carl Schuricht (1880-1967) considerado um especialista no reportório germânico desde Schubert a Mahler".

Admirado por Celibidache, é também conhecido pela interpretação apaixonada das sinfonias de Bruckner, sobretudo da sua gravação da sinfonia nº5 realizada em Viena em 1963 e considerada por muitos a melhor versão da obra. (fonte Wikipedia)

Schuricht dirige aqui o primeiro andamento da sinfonia nº3 "Renana" (op.97)




2 comentários:

  1. As primeiras gravações que ouvi foram as de Karajan. Uma tortura. Incompreensível!
    Tentei mais tarde ouvi-las de outras gravações. Até que outro dia ouvi uma versão de David Zinman. Fiquei extasiado.

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  2. Comecei a ouvi-las agora. Comprei as gravacoes do Solti pela Filarmônica de Viena, nao estou achando ruim nao. Mas fiquei curioso com as gravacoes que o Gardiner fez agora, vou tentar encontrar. Na minha cabeça, Gardiner se dá melhor no repertório barroco, mas pode ser preconceito meu.

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