terça-feira, 20 de novembro de 2007

Jogos musicais...


A sinfonia sempre foi um género que me atraiu. Para além de ser, na maior parte dos casos música pura, tinha sempre a sensação de que estava a assistir a uma sequência de eventos que nem sempre era capaz de acompanhar. E então, a certa altura, dei por mim a sentir a necessidade de associar motivos extra-musicais para evitar começar a divagar, o mesmo é dizer, deixar de prestar atenção e de ouvir. Assim, ficava-me por uma série limitada de sinfonias mais teatrais (com efeitos orquestrais atraentes e mais ou menos espectaculares) mas muitas ficavam na prateleira por não conseguir compreender ...

Ao fazer certas leituras, compreendi o conceito de forma na obra musical, mas a sua aplicação prática não foi fácil. Comecei então a procurar livros que contivessem exemplos musicais para que pudesse compreender melhor aquilo que se estava a passar. Com o tempo fui conseguindo aplicar esses exemplos em obras conhecidas e outras que ia ouvindo pela primeira vez.

A certa altura comecei a jogar comigo próprio um jogo: ao mesmo tempo que ouvia tentava seguir os elementos constituintes da forma da obra. O meu prazer na audição aumentou consideravelmente.


Então fui a prateleira onde tinha aquelas sinfonias que não tinha ouvido mais do que uma vez por não as conseguir compreender e comecei a jogar...

De repente os esquemas surgiram claros na minha mente e os elementos sonoros apareciam perfeitamente ordenados naquela sequência lógica de eventos. Pude então aperceber-me do trabalho de artífice do compositor que consistia em ordenar os temas musicais gerados pelos seu talento. A inspiração permite a criação de melodias, mas é a construção racional do discurso musical que faz a grande obra, a grande música !!!

Em certas épocas da história da música, a forma adquire uma grande estabilidade, fazendo o processo composicional parecer uma mera aplicação de um receituário.


Mesmo assim, mantendo-se fiel a este esquema rígido, alguns conseguem criar, quase miraculosamente, obras primas com a frescura de quem brinca...





Existem outros momentos em que o compositor veste o fato de experimentador e, como um pintor ou um inventor, procura novas formas, novos moldes para verter o talento, apurando sucessivamente até chegar a uma forma que incorpore o seu ideal.



Outros ainda, infringem rudes golpes de martelo nas velhas formas, torcendo-as ou ampliando-as a dimensões que as levam quase á ruptura.






Depois de tantas transformações e deformações, parecendo que nada mais havia a explorar, alguns ainda têm a coragem de voltar a pegar no género e procurar construir algo de novo.



E quando tudo parecia acabado, eis que o processo de renovação continua...


Tudo isto está vedado ao ouvinte que, de pouco avisado, não está consciente da noção da forma e como tal não pode discernir nem julgar de forma crítica aquilo que ouve.

Para mim muito do prazer musical é obtido da razão e do intelecto !

Proponho um excelente site para quem queira iniciar-se no domínio da sinfonia e da forma musical: http://library.thinkquest.org/22673/index.html

Um comentário:

  1. Excelente post ! Ao nível do Bernstein. Aliás lembrou-me esta sua explicação essa série de programas. Muito, muito bom este seu post, os meus parabéns. Além disso a sugestão que faz é espectacular. Não conhecia de todo e é claro que se me permite vou passar a utilizar como referência no meu blog ... deveras espectacular. É notável como os americanos quando querem fazem coisas verdadeiramente únicas :-)
    Bem acho que o meu programa para o dia de Domingo acabou de mudar. Tinha pensado ir almoçar à Gulbenkian mas não sei se vou conseguir saír de casa até acabar de explorar este tesouro. Mais uma vez muitos parabéns ...

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