Hoje temos as gravações que atestam a grandeza da sua voz. Mas para mim é a sua enorme gama de recursos postos ao serviço da expressão vocal que a fazem única. Desde sempre fui sensível às nuances que conseguia pôr na sua voz e à cor que transmitia a cada verso das canções. Ao ouvi-la conseguia sentir a essência de cada palavra no seu sentido mais puro. E isto mesmo antes de conhecer os detalhes da sua trágica vida. É que, mesmo nas músicas mais alegres, há uma tristeza, uma melancolia se insinua e que nos atinge. Claro que nos temas trágicos é insuperável...
Nasceu humilde e cedo conheceu a dureza da vida ao ser violentada aos dez anos. Do reformatório e da prostituição o acaso tornou-a cantora contratada aos quinze anos no Jerry Preston´s de Harlem. Colaborou inicialmente com o pianista T. Wilson (1935) com quem gravou os primeiros discos; depois com C. Basie e a sua orquestra, L. Armstrong para além de muitos outros grandes músicos de jazz do seu tempo.
Há um momento marcante na sua carreira quando compõe e interpreta o trágico "Strange Fruit" (1944) que escandaliza ao metaforizar os cadáveres de negros pendurados nas árvores da sua terra (os estranhos frutos) e que leva à proibição da música em alguns países.
A sua existência foi sempre marcada pela violação que sofreu em menina e a dependência do álcool e das drogas levou-a à prisão e mais tarde à morte.
"A voz dolorosamente trémula torna-se mais àspera, o seu canto sensível sempre mais amargo e artificioso"
Uma pesquisa rápida no Youtube permite encontrar algumas das suas interpretações.Este post é para ser saboreado devagar. Aconselho sentar-se confortavelmente e escolher uma interpretação para ouvir. Saboreie cada nota, aprecie as inflexões na voz, o contracanto do acompanhamento, os ambientes e, se tudo correr bem entrará facilmente no espírito. Não precisa de ouvir tudo de uma vez, volte cá outro dia para continuar...
Claro que posso sugerir algumas para começar, baseio-me apenas no meu gosto especial.
Para além de "Gloomy Sunday" (post anterior) e de "I cover the waterfront" que infelizmente não consegui encontrar, gosto especialmente dos melancólicos:
"Good Morning Heartache" (http://br.youtube.com/watch?v=XQ3PVm6YbmU)
"Solitude" (http://br.youtube.com/watch?v=z4eXV1FYNc4)
"Autumn in New York" (http://br.youtube.com/watch?v=UsODsSfgo2k)
"Moonlight in Vermont" (http://br.youtube.com/watch?v=StNAmz7kpe4)
"I Don't Want To Cry Anymore" (http://br.youtube.com/watch?v=stN7CR_MFUE)
"Lover Man" (http://br.youtube.com/watch?v=rT_h8mQsD1Y)
"My Man" (http://br.youtube.com/watch?v=IQlehVpcAes)
Mas existem temas mais "luminosos" embora, se ouvirem com atenção notarão aquela névoa de tristeza de que já tinha falado:
"What A Little Moonlight Can Do" (http://br.youtube.com/watch?v=3qyxmn0uQxE)"Please Dont Talk About Me" (http://br.youtube.com/watch?v=_PqtQbJR02g)
Existem também exemplos de duetos com grandes nomes do Jazz:
Com Louis Armstrong:
"The Blues Are Brewin" (http://br.youtube.com/watch?v=bWtUzdI5hlE)
"Farewell to Storyville" (http://br.youtube.com/watch?v=gLHCR0OTqhs)
"Do you know what it means" (http://br.youtube.com/watch?v=ROEWiNsb754)
Com Count Basie e a sua orquestra:"God bless the child, now baby" (http://br.youtube.com/watch?v=7IYTx60s07A)
Um blues "puro e duro":
"Lady sings the blues" (http://br.youtube.com/watch?v=IUtPODn7cCc)
Standards de Gershwin da "Porgy and Bess":
"Summertime" (http://br.youtube.com/watch?v=h5ddqniqxFM)
"I Love You Porgy" (http://br.youtube.com/watch?v=PRVpE4Sz6qU)
O trágico tema já referido na biografia:
Strange fruit" (http://br.youtube.com/watch?v=h4ZyuULy9zs)
E ainda os "não classificados":
"One for my Baby (and one more for the road)" (http://br.youtube.com/watch?v=R7llu2aQRSQ)
"Aint nobody business" (http://br.youtube.com/watch?v=KBtN8h85F-I)
Existe ainda muito, muito mais... O próximo passo é descobrir outros temas, de certeza que boas surpresas surgirão. Para mim nunca deixará de ser uma das minhas cantoras favoritas....
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