
"A Criação" pertence ao género do oratório que tinha atingido o seu apogeu durante o Barroco e que se encontrava em declínio em finais do século XVIII, embora Haydn já tivesse composto o "Stabat Mater" (1767), "O Regresso de Tobias" (1775) e "As Sete Últimas Palavras de Cristo" (1796).
A obra foi estreada num concerto privado no dia 29 de abril de 1798 no salão do Palácio de Schwarzenberg em Viena, foi executada cerca de quarenta vezes nesta cidade durante a vida de Haydn e também em vários países da Europa dos quais se destaca a Inglaterra no Covent Garden em Londres em 1799 numa versão em Inglês.
"A Criação" (Die Schopfung) descreve a criação do mundo e seu libreto foi baseado em três fontes: o Gênesis, o Livro dos Salmos e no épico Paraíso Perdido de John Milton (1608-1674). Três solistas representam os anjos: Gabriel (soprano), Uriel (tenor) e Rafael (baixo), que narram e comentam os seis dias da criação.
Está dividida em três partes e, como era tradição nos oratórios, números musicais amplos (árias e coros) são geralmente precedidos de breve recitativo (passagem em que uma personagem faz um relato, comenta uma acção ou estabelece diálogo com outro protagonista fazendo avançar a acção)


Na terceira parte o cenário é o Jardim de Éden, onde Adão e Eva passeiam felizes antes do pecado original.

Os episódios de música instrumental correspondem ao que de melhor se fez em música programática: o aparecimento do sol, a criação dos vários animais, e acima de tudo na abertura, a famosa descrição do Caos antes da criação com a utilização de uma harmonia tão audaciosa que alguns especialistas a apontam como percursora das revoluções musicais do século XIX.
A obra conclui com uma fuga dupla baseada no texto "Des Herren Ruhm, er bleibt in Ewigkeit" (A obra do senhor durará para sempre), com passagens para os solistas e uma secção final homofônica e grandiosa.
As partes do coro são de um estilo grandioso e monumental, muitas celebrando o fim de um dia particular da criação.
Haydn procurou imprimir um som bem mais grandioso que o padrão da época, tendo inclusive, logo após a estréia, adicionado novos instrumentos. Quando "A Criação" foi apresentada ao público, os músicos chegavam a 120 e o coro tinha 60 vozes!!!!
Para ilustrar escolhi como exemplo a longa secção que encerra o final do 6º dia (final da segunda parte da oratória) "Vollendet ist das große Werk" (Terminada está a gloriosa obra,).
Inicialmente parece um coro final de acção de graças para glorificar a obra de Deus no entanto, em vez de concluir, dá início a um Adagio para os sopros introduzindo um dueto sereno entre Gabriel e Uriel expressando a humildade perante o Criador. Subitamente, as cordas graves entram em uníssono "escurecendo" a harmonia e Rafael evoca momento sombrio em que Deus vira a Sua Face (notar como a orquestra evoca subtilmente o tremor perante a ausência de Deus). O trio que se segue entre os três arcanjos cita "A flauta Mágica" de Mozart entretanto já falecido (uma comovente homenagem do seu amigo e admirador) retoma o ambiente de serenidade e de esperança. Finalmente a esperada conclusão do coro num contraponto maravilhoso !!!
http://www.collegium-musicum.at/?lang=&m=hoerproben.
Aqui está um exemplo de como os próprios artistas podem promover o seu trabalho...
Excelente sugestão. Quando entrar no período clássico farei referência ...
ResponderExcluirBom já agora em nota de rodapé, não vai acreditar mas consegui encontrar o livro do Bernstein de que falou no post anterior ... aliás para ser rigoroso a minha esposa encontrou e fez-me a surpresa! Um grande bem haja por ter falado desse livro que sinceramente desconhecia.
E hoje na Mezzo pude ver Bernstein a conduzir a Filarmónica de Viena ... Perfeito, Perfeito, só se tivesse sido a 7ª :-)
Mas que bela surpresa!!!
ResponderExcluirFico satisfeito. Estou certo de que vai adorar o livro.
Também sou um apreciador do canal Mezzo mas por falta de tempo não consigo ver muitas vezes embora sempre vá dando para dar uma espreitadela...