Deixando um pouco de lado o fausto instrumental que ilustra a criação das grandes forças da natureza (voltaremos a esse registo em próximos posts. Até porque temos ainda que regressar ao caos primordial...). Retenho-me agora num momento mais intimista e sereno, mas não menos belo da criação do Homem e da Mulher. Esta música genial é também a elevação da humanidade á imagem de Deus segundo a concepção saída das Luzes e oposta aquela que emana, por exemplo, da música sacra de Bach onde o Homem pecador nada é em face de Deus.
A criação do Homem e da Mulher é narrado em recitativo pelo anjo Uriel que, em seguida, inicia a belíssima ária: "Mit Würd’ und Hoheit angetan" (Repleto de nobreza e dignidade,) que constitui nem mais nem menos que a última música que Haydn ouviu antes de falecer.
No dia 9 de Abril de 1809, a Áustria e a França entram em guerra e as tropas francesas atingem rapidamente as portas de Viena. A casa de Haydn estava próxima da linha exterior do bairro suburbano de Gumpendorf. Este suportou, apesar da avançada idade os bombardeamentos franceses próximos. Mesmo assim, todos os dias, por volta do meio dia sentava-se no seu pianoforte e tocava o seu Lied favorito "Gott erhalte Franz den Kaiser" que é hoje a música o hino da Alemanha. O prestígio de Haydn era tal que vários oficiais franceses faziam uma pausa na guerra para o ir visitar após o que voltavam para o lado inimigo. A última dessas visitas vem relatada numa carta de um dos amigos próximos de Haydn:
"No dia 24 de Maio, às duas da tarde, enquanto Haydn fazia a sesta, um oficial dos hussardos francês foi visitá-lo (...) Haydn recebeu-o, falou com ele de música e em particular da Criação, e mostrou-se tão vivo de espírito que o oficial lhe cantou em italiano a ária [da criação do homem] "Mit Würd’ und Hoheit angetan ". (...) Ao fim duma meia hora, o oficial voltou a montar a cavalo para avançar contra o inimigo, (...) Esperemos que este nobre cavalheiro venha um dia a saber que foi ele que proporcionou a Haydn a sua última alegria musical, porque depois disso ele não ouviu a mais pequena nota."
"É para ele felicidade, amor e delícia"
A criação do Homem e da Mulher é narrado em recitativo pelo anjo Uriel que, em seguida, inicia a belíssima ária: "Mit Würd’ und Hoheit angetan" (Repleto de nobreza e dignidade,) que constitui nem mais nem menos que a última música que Haydn ouviu antes de falecer.
No dia 9 de Abril de 1809, a Áustria e a França entram em guerra e as tropas francesas atingem rapidamente as portas de Viena. A casa de Haydn estava próxima da linha exterior do bairro suburbano de Gumpendorf. Este suportou, apesar da avançada idade os bombardeamentos franceses próximos. Mesmo assim, todos os dias, por volta do meio dia sentava-se no seu pianoforte e tocava o seu Lied favorito "Gott erhalte Franz den Kaiser" que é hoje a música o hino da Alemanha. O prestígio de Haydn era tal que vários oficiais franceses faziam uma pausa na guerra para o ir visitar após o que voltavam para o lado inimigo. A última dessas visitas vem relatada numa carta de um dos amigos próximos de Haydn:
"No dia 24 de Maio, às duas da tarde, enquanto Haydn fazia a sesta, um oficial dos hussardos francês foi visitá-lo (...) Haydn recebeu-o, falou com ele de música e em particular da Criação, e mostrou-se tão vivo de espírito que o oficial lhe cantou em italiano a ária [da criação do homem] "Mit Würd’ und Hoheit angetan ". (...) Ao fim duma meia hora, o oficial voltou a montar a cavalo para avançar contra o inimigo, (...) Esperemos que este nobre cavalheiro venha um dia a saber que foi ele que proporcionou a Haydn a sua última alegria musical, porque depois disso ele não ouviu a mais pequena nota."
"É para ele felicidade, amor e delícia"
No. 24. ÁRIA
URIEL
Mit Würd’ und Hoheit angetan, (Repleto de nobreza e dignidade,)
it Schönheit, Stärk’ und Mut begabt, (dotado de beleza, força e coragem,)
Gen Himmel aufgerichtet steht der Mensch, (erguido para o céu, o homem eleva-se)
Ein Mann und König der Natur. (como rei da natureza.)
Die breit gewölbt’ erhabne Stirn (A sua ampla e limpa fronte)
Und aus dem hellen Blicke strahlt (E no seu claro olhar brilha o espírito,)
Der Geist, des Schöpfers Hauch und Ebenbild. (o hálito do Criador e a sua própria imagem.)
An seinen Busen schmieget sich (No seu peito abraçada,)
Für ihn, aus ihm geformt, (dele e para ele criada,)
Die Gattin hold und anmutsvoll. (a esposa, atraente e adorável.)
In froher Unschuld lächelt sie, (Com alegre inocência sorri,)
Des Frühlings reizend Bild, (como encantadora imagem da primavera.)
Ihm Liebe, Glück und Wonne zu. (É para ele amor, felicidade, delícia.)
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