Eu próprio odiava o género, por várias razões objectivas: o exagero, a falta de naturalidade ou a teatralidade excessiva, a história, muitas vezes inverosímil, não entendia os diálogos e, talvez a principal a sua duração excessiva. Só ouvia mesmo aqueles CDs com algumas das árias mais importantes, ou então as aberturas.
Para além das razões anteriores, há também outro aspecto que julgo ser importante nas dificuldades observadas na sua apreciação:
É que as óperas são obras para serem representadas num palco, e como tal associam o carácter musical a uma forte componente visual e interpretativa que nunca poderá ser transmitida por um CD de música.
Na realidade, tenho de confessar que odiava algo que nunca tinha visto na sua plenitude (visual e auditivamente) e muito menos na sua totalidade (apenas conhecia partes de óperas). Portanto um juízo bem injusto!!!
Por esta razão fui, há uns anos atrás, assistir a duas óperas ao vivo:
"La Boheme" de Puccini
"Flauta Mágica" de Mozart
Comecei desconfiado e saí de lá admirado. Gostei muito e, curiosamente não dei pelo tempo passar, mesmo sem perceber muitos dos diálogos... apenas com a ajuda de um resumo do enredo que lia no início de cada acto.
Depois da minha curiosidade ter sido despertada por estas experiências bem sucedidas, prometi a mim mesmo conhecer esse enorme corpo cultural tão desprezado entre nós.
Comecei a adquirir DVDs com óperas e claro a assistir:
As de Mozart:
O Singspiel "A Flauta Mágica" (que já tinha assistido ao vivo), com os seus diálogos falados em alemão, consegue reunir vários níveis de significação podendo ser apreciada por crianças ou entendida num nível mais profundo pela profusão de simbologia maçónica. Uma ópera para o povo e para os eruditos da época. Ambos saem plenamente satisfeitos cantarolando melodias que ficam facilmente no ouvido ou então a reflectir sobre o papel do homem no mundo. (falta-me conhecer o "Rapto do Serralho", o outro singspiel.
As óperas italianas:
"Don Giovanni" ópera negra que combina música profundamente tenebrosa com a mais vibrante alegria de viver.
As "Bodas de Fígaro" (minha preferida) com os seu humor contagiante e os seus irresistíveis agrupamentos vocais, entusiasmante !!!
"Cosi Fan tute", para mim um pouco apagada mas mantendo o modelo de equilíbrio clássico, belas melodias e o humor palaciano (aceito que precisarei de um pouco mais de tempo para apreciar devidamente).
"Fidelio" de Beethoven é sem dúvida um hino à liberdade.
As de Puccini:
"Tosca", "Madame Butterfly", "La Boheme" (já referida), "Turandot". Um mundo de heroínas trágicas, sacrificando-se por amor e embaladas por um música tão bela, tão maravilhosamente orquestrada embora por vezes um pouco melodramática. Já "Turandot", infelizmente inacabada, mas com uma sonoridade tão moderna (para mim uma verdadeira ópera do século XX).
...e logo me aventurei nas de Wagner
(essas que eu considerava inacreditável que alguém
conseguisse assistir/ouvir... horas e horas).
Bem, só quem se disponha a ouvir com atenção e tempo poderá começar a usufruir do enorme prazer em seguir uma trama tão maravilhosamente tecida de temas musicais, sugestões tonais, cores orquestrais. E tudo isto sem parar !!! um fluxo ininterrupto de música.
São todas assim: "Parsifal" (épica !), a não menos épica tetralogia do "Anel dos Nibelungos" ("O Ouro do Reno", "A Valquíria", "Siegfried "e o "Crepúsculo dos Deuses"), cada uma delas um prova de resistência para músicos, cantores e público. Também "Tristão e Isolda" em que toda a música parece glorificar o amor. E aquela glorificação da cultura germânica, combinada com um humor irresistível e uma abertura orquestral de monumental beleza que são os "Mestres Cantores de Nurmberga". Faltam-me ainda conhecer mais algumas como "O Holandês Voador", "Tannhauser", "Lohergrin",...
E só ultimamente, por razões que não consigo explicar, comecei a abordar as óperas de Verdi.
Até agora apenas o "Rigolleto".
Concentrei-me mais em aspectos do enredo do que propriamente na música. O que até me parece estranho.
Fascinou-me particularmente a figura do bobo Rigolleto, sobre o qual a nossa opinião oscila entre o desprezo, horror, a pena e a admiração. A profundidade desta personagem opõe-se fortemente à excessiva superficialidade da personagem do Duque de Mântua. Quanto à música, terei que ouvir mais, para poder formular opinião.
A viagem ainda agora começou e ainda há tanto para conhecer. Por exemplo, pretendo explorar as primeiras óperas como o "Orfeu" de Monteverdi, mas também o "Orfeu" de Gluck. E depois seguir com outras famosas como "Carmen" de Bizet, "Fasto" e os "Troianos" de Berlioz. E muitas mais, Haja tempo!!.
Uma última nota: Só depois de muito tempo é que comecei a perceber a sua beleza e principalmente a sua ligação, quase imperceptível à música orquestral/sinfónica, este sim um género que sempre apreciei.
Estas relações são tão intensas como quase imperceptíveis para o ouvinte pouco atento.
Mas isso ficará certamente para outro post.
Para além das razões anteriores, há também outro aspecto que julgo ser importante nas dificuldades observadas na sua apreciação:
É que as óperas são obras para serem representadas num palco, e como tal associam o carácter musical a uma forte componente visual e interpretativa que nunca poderá ser transmitida por um CD de música.
Na realidade, tenho de confessar que odiava algo que nunca tinha visto na sua plenitude (visual e auditivamente) e muito menos na sua totalidade (apenas conhecia partes de óperas). Portanto um juízo bem injusto!!!
Por esta razão fui, há uns anos atrás, assistir a duas óperas ao vivo:
"La Boheme" de Puccini
"Flauta Mágica" de Mozart
Comecei desconfiado e saí de lá admirado. Gostei muito e, curiosamente não dei pelo tempo passar, mesmo sem perceber muitos dos diálogos... apenas com a ajuda de um resumo do enredo que lia no início de cada acto.
Depois da minha curiosidade ter sido despertada por estas experiências bem sucedidas, prometi a mim mesmo conhecer esse enorme corpo cultural tão desprezado entre nós.
Comecei a adquirir DVDs com óperas e claro a assistir:
As de Mozart:
O Singspiel "A Flauta Mágica" (que já tinha assistido ao vivo), com os seus diálogos falados em alemão, consegue reunir vários níveis de significação podendo ser apreciada por crianças ou entendida num nível mais profundo pela profusão de simbologia maçónica. Uma ópera para o povo e para os eruditos da época. Ambos saem plenamente satisfeitos cantarolando melodias que ficam facilmente no ouvido ou então a reflectir sobre o papel do homem no mundo. (falta-me conhecer o "Rapto do Serralho", o outro singspiel.
As óperas italianas:
"Don Giovanni" ópera negra que combina música profundamente tenebrosa com a mais vibrante alegria de viver.
As "Bodas de Fígaro" (minha preferida) com os seu humor contagiante e os seus irresistíveis agrupamentos vocais, entusiasmante !!!
"Cosi Fan tute", para mim um pouco apagada mas mantendo o modelo de equilíbrio clássico, belas melodias e o humor palaciano (aceito que precisarei de um pouco mais de tempo para apreciar devidamente).
"Fidelio" de Beethoven é sem dúvida um hino à liberdade.
De escrita fortemente sinfónica generosa nos ideais e nas formas
Parece por vezes que a música é um raio de luz que irrompe através da sua teatralidade um pouco cinzenta (espero não estar a cometer uma
injustiça acho que aqui mas a sua música está muitos níveis acima do libretto e dos diálogos).
Parece por vezes que a música é um raio de luz que irrompe através da sua teatralidade um pouco cinzenta (espero não estar a cometer uma
injustiça acho que aqui mas a sua música está muitos níveis acima do libretto e dos diálogos).
As de Puccini:
"Tosca", "Madame Butterfly", "La Boheme" (já referida), "Turandot". Um mundo de heroínas trágicas, sacrificando-se por amor e embaladas por um música tão bela, tão maravilhosamente orquestrada embora por vezes um pouco melodramática. Já "Turandot", infelizmente inacabada, mas com uma sonoridade tão moderna (para mim uma verdadeira ópera do século XX).
...e logo me aventurei nas de Wagner
(essas que eu considerava inacreditável que alguém
conseguisse assistir/ouvir... horas e horas).
Bem, só quem se disponha a ouvir com atenção e tempo poderá começar a usufruir do enorme prazer em seguir uma trama tão maravilhosamente tecida de temas musicais, sugestões tonais, cores orquestrais. E tudo isto sem parar !!! um fluxo ininterrupto de música.
São todas assim: "Parsifal" (épica !), a não menos épica tetralogia do "Anel dos Nibelungos" ("O Ouro do Reno", "A Valquíria", "Siegfried "e o "Crepúsculo dos Deuses"), cada uma delas um prova de resistência para músicos, cantores e público. Também "Tristão e Isolda" em que toda a música parece glorificar o amor. E aquela glorificação da cultura germânica, combinada com um humor irresistível e uma abertura orquestral de monumental beleza que são os "Mestres Cantores de Nurmberga". Faltam-me ainda conhecer mais algumas como "O Holandês Voador", "Tannhauser", "Lohergrin",...
E só ultimamente, por razões que não consigo explicar, comecei a abordar as óperas de Verdi.
Até agora apenas o "Rigolleto".
Concentrei-me mais em aspectos do enredo do que propriamente na música. O que até me parece estranho.
Fascinou-me particularmente a figura do bobo Rigolleto, sobre o qual a nossa opinião oscila entre o desprezo, horror, a pena e a admiração. A profundidade desta personagem opõe-se fortemente à excessiva superficialidade da personagem do Duque de Mântua. Quanto à música, terei que ouvir mais, para poder formular opinião.
A viagem ainda agora começou e ainda há tanto para conhecer. Por exemplo, pretendo explorar as primeiras óperas como o "Orfeu" de Monteverdi, mas também o "Orfeu" de Gluck. E depois seguir com outras famosas como "Carmen" de Bizet, "Fasto" e os "Troianos" de Berlioz. E muitas mais, Haja tempo!!.
Uma última nota: Só depois de muito tempo é que comecei a perceber a sua beleza e principalmente a sua ligação, quase imperceptível à música orquestral/sinfónica, este sim um género que sempre apreciei.
Estas relações são tão intensas como quase imperceptíveis para o ouvinte pouco atento.
Mas isso ficará certamente para outro post.
Costumo ocupar minhas noites de insônia com música clássica e ópera, mas não tenho paciência para os vídeos do YouTube. Por duas razões: a primeira é que nem todos têm boa qualidade e depois, como a minha ligação em casa é lenta, o vídeo está sempre quebrando. Por isso, prefiro procurar rádios online. Tenho uma preferida: o http://cotonete.clix.pt/, um directôrio muito completo de outras rádios na mesma onda.
ResponderExcluirO site é excelente. Obrigado pela sugestão.
ResponderExcluirPena que a sua ligação em casa seja lenta, tinha aqui um site para lhe sugerir com vídeos de qualidade: http://www.medici.tv/